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Abstract(s)
A presente investigação pretendeu estudar a forma como um grupo de professores
e alunos de Ciências da Terra e da Vida (11º ano) interpretam e reagem às controvérsias
sócio-científicas recentes, divulgadas pelos meios de comunicação social. Este estudo
reveste-se de particular relevância num período marcado, simultaneamente, por fortes
discussões relativas ao impacto social e ambiental de várias inovações científicas e
tecnológicas e pela implementação de novos currículos de ciências, que realçam a
importância da discussão de controvérsias sócio-científicas no desenvolvimento da literacia
científica dos alunos.
Actualmente, a compreensão da natureza da ciência e da sua relação com a
sociedade e a cultura é considerada um dos eixos fundamentais da literacia científica
(Galvão, 2001; McComas, 2000). No entanto, diversas investigações têm revelado que
tanto a escola como os meios de comunicação social parecem contribuir, explícita e
implicitamente, para a construção de concepções limitadas acerca da ciência e dos
cientistas (Abd-El-Khalick e Lederman, 2000; Matthews e Davies, 1999; Praia e Cachapuz,
1998). Perante esta situação, assume especial importância a realização de iniciativas de
desenvolvimento pessoal e profissional (centradas nas escolas) que, estimulando a
reflexão na acção e sobre a acção, capacitem os professores para uma reconstrução dos
currículos e das suas práticas, de acordo com as orientações curriculares actuais para o
ensino das ciências (Roldão, 1999; Ponte, 1998; Schön, 1987; Loucks-Horsley, Hewson,
Love e Stiles, 1998).
Nesta investigação, optou-se por uma abordagem interpretativa, de tipo qualitativo,
que decorreu em duas fases complementares. Numa primeira fase, baseada
essencialmente em estudos de caso, procurou-se investigar o eventual impacto destas
controvérsias nas concepções dos professores e dos alunos (sobre a natureza, o ensino e
a aprendizagem das ciências) e na prática pedagógica desses professores. Como métodos
de recolha de dados aplicaram-se questionários, realizaram-se entrevistas
semi-estruturadas, efectuaram-se observações de aulas e analisaram-se diversos
documentos (nomeadamente, histórias de ficção científica redigidas pelos alunos). Entre os
alunos, foi evidente a falta de conhecimentos processuais e epistemológicos sobre a
ciência, bem como a existência de diversas ideias estereotipadas e deturpadas sobre as
características e a actividade dos cientistas. As práticas de sala de aula utilizadas pelos seus professores e as imagens de ciência divulgadas pelos meios de comunicação social
parecem contribuir para esta situação.
A segunda fase do estudo, suscitada pelos resultados obtidos durante a primeira
fase, assumiu um formato de investigação-acção, perseguindo, simultaneamente, como é
inerente a esta metodologia, finalidades de compreensão e de intervenção sobre a
realidade detectada. A constatação do teor limitado e estereotipado das concepções dos
alunos e de algumas práticas de sala de aula caracterizadas pela ausência de referências
explícitas a aspectos processuais e epistemológicos da ciência, motivou a realização de
uma acção de desenvolvimento pessoal e profissional dirigida aos professores envolvidos
na primeira fase do estudo. Esta acção de formação permitiu constatar as potencialidades
de várias estratégias utilizadas na estimulação da reflexão (sobre as concepções e as
práticas de sala de aula), no reconhecimento das potencialidades das actividades de
discussão de questões sócio-científicas (na abordagem de aspectos da natureza e
funcionamento da ciência) e na construção de conhecimento didáctico necessário à
utilização deste tipo de actividades em contexto de sala de aula. Contudo, o aspecto mais
importante da acção de formação deverá ter sido a sua contribuição para a identificação e
o estudo de factores que afectam a congruência entre as concepções dos professores
(acerca da natureza, do ensino e da aprendizagem das ciências) e a prática de sala de
aula.
Os resultados obtidos neste estudo têm implicações para a investigação sobre as
concepções dos alunos acerca da natureza da ciência, o ensino das ciências (no Ensino
Básico e Secundário) e a formação inicial e contínua de professores. Entre as mais
significativas destacam-se: a) as potencialidades da utilização combinada de histórias de
ficção científica (sobre a actividade dos cientistas) e de entrevistas na investigação das
concepções dos alunos acerca do empreendimento científico; b) a importância de uma
intervenção activa do ensino das ciências na discussão das imagens veiculadas pelos
media (acerca da ciência, da tecnologia e da actividade, características e motivações dos
cientistas); c) a pertinência de um maior investimento na concepção e avaliação de
materiais educativos centrados em aspectos processuais e epistemológicos da ciência; e d)
a relevância de iniciativas de desenvolvimento pessoal e profissional, centradas na escola,
que apoiem os professores durante a concepção e a implementação desse tipo de
materiais em contexto de sala de aula.
Palavras-Chave: Ensino das Ciências; Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS);
Controvérsias Sócio-Científicas; Discussão; Concepções acerca da Natureza da Ciência;
Práticas de Sala de Aula; Conhecimento e Desenvolvimento Profissional.
Description
Tese apresentada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa para obtenção do Doutoramento em Educação, especialidade:didáctica das ciências
Keywords
Ensino das Ciências Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) Controvérsias Sócio-Científicas Discussão Concepções acerca da Natureza da Ciência Práticas de Sala de Aula Conhecimento e Desenvolvimento Profissional