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Authors
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Abstract(s)
As terapias sistémicas contemporâneas adotaram a metáfora das histórias e
das narrativas na explicação e compreensão dos sujeitos e dos sistemas com quem
intervêm e, consequentemente, na conceptualização da terapia e das estratégias
terapêuticas que preconizam.
Este enfoque pontuou a exigência de pensar, estudar e descrever a narrativa
através dos pressupostos pós- modernos, em particular das terapias narrativas,
exigindo, naturalmente, o desenvolvimento de estudos sobre como ocorre a
mudança narrativa nas terapias sistémicas (terapia familiar e terapia de casal). O
objetivo deste trabalho é descrever e explicar a mudança narrativa nas terapias
sistémicas de enfoque narrativo.
A investigação aqui descrita inclui: a) a apresentação de um sistema de
avaliação da narrativa (Sistema de Avaliação da Mudança Narrativa - SAMN)
desenvolvido para estudar as histórias e narrativas que ocorrem, nomeadamente em
sessões de terapia familiar e de casal sistémicas (capítulo I); b) os estudos de avaliação da sua validade e fidelidade (capítulo II); c) um estudo geral de enfoque quantitativo sobre as dimensões e preditores da mudança narrativa em terapias familiares e de casal (capítulo III); d) uma proposta de modelo compreensivo da
mudança - níveis lógicos da mudança narrativ a – nas terapias sistémicas; e f ) um
estudo de enfoque qualitativo, centrado na anál ise dos fatores da (não)mudança
narrativa em três casos de terapias familiares consideradas de insucesso.
Os resultados permitem concluir que o SAMN descreve e caracteriza as
histórias e narrativas que os clientes e terapeutas veiculam na terapia em dois aspetos cruciais: na dimensão forma/estrutura e no conteúdo das histórias. O SANM pontua as micro e macro mudanças que ocorrem ao longo das sessões e permite identificar pontos de viragem específicos nas histórias conversadas na terapia, em cada família ou casal e em cada sessão. O sistema foi aplicado em vários contextos, com participantes e juízes distintos, e apresenta valores de fidelidade nas cotações considerados genericamente bons, o que valida a sua utilização e reforça a validade dos dados recolhidos sobre as narrativas em foco.
Os resultados desta investigação corroboram o pressuposto fundamental no qual assentam as terapias narrativas: as experiências e significados sobre a vida e sobre os problemas que trazem as pessoas às terapias mudam através das mudanças que ocorrem nas suas narrativas (identitárias, ou de 1ª ordem) (Carr, 1997). À
medida que as narrativas se alteram o que pensamos e fazemos muda também. Este
pressuposto verifica- se nas famílias e casais estudados e também no investigador.
Os resultados permitem concluir que processo pelo qual as pessoas mudam
acontece pela elaboração de histórias conjuntas (narrativas terapêuticas de 2ª
ordem) cuja função é gerar um espaço de reflexão, questionamento, desconstrução
e elaboração de outras hi stórias para os eventos considerados problema. A
construção de narrativas terapêuticas de 2ª ordem parece ser um requisito relevante
na ocorrência da mudança.
Conclui- se também que, na terapia, podem ocorrer perturbações nas histórias e nas narrativas mesmo que estas não gerem as mudanças desejadas. Para
que a mudança seja efetiva é necessário que ocorra não só uma perturbação e um
questionamento das histórias problema mas que se amplifique tal perturbação/mudança na família/casal e nos sistemas socais relevantes. A mudança deve ainda ocorrer em várias dimensões das histórias: no conteúdo, no significado e na estrutura. Verificou- se que a introdução de versões subdominantes, de singularidades e momentos de reflexividade narrativa nos casos bem sucedidos, por oposição ao observado nos insucessos, permitem a emergência de novas histórias e significados e a introdução de novos focos ou temas nas sessões, descentrados do sintoma. Na estrutura da narrativa, nos casos bem sucedidos, ocorre um desbloqueio dos elementos/pressupostos reguladores das histórias – níveis superiores de organização narrativa –, em particular, no tempo e na causalidade.
Observou- se a introdução do tempo futuro e da causalidade circular apenas nas narrativas das sessões dos casos bem sucedi dos, contrastando com a sua total
ausência nos insucessos.
Das várias implicações apontadas para a prática clínica sublinha- se a
importância: a) da avaliação do funcionamento narrativo dos sistemas sobre as histórias problema e os pontos de bloqueio e enquadramento familiar, social, cultural e político em que estas histórias se desenvolveram e subsistem; b) da introdução de perturbação nos níveis superiores da narrativa (tempo, espaço e causalidade) e a inclusão de temas não problema na sessão desde as fases iniciais do processo terapêutico.
Esta investigação permitiu apresentar o SAMN, apontar as suas potencialidades e limitações no estudo da mudança, pontuar novas descobertas sobre a compreensão e a promoção da mudança narrativa nas terapias sistémicas e, finalmente, delinear possibilidades de investigação futuras que reforcem as descobertas aqui apresentadas sobre a mudança no processo terapêutico.ABSTRACT
Contemporary systemic therapies have adopted the metaphor of stories and
narratives to explain and understand subjects and systems, to conceptualize therapy
and intervention strategies.
This focus pointed out the need to think, study and describe narratives
through the links between postmodern assumptions, specifically narrative therapies,
and systemic epistemology. It also demanded the development of studies about how
narrative changes occur in systemic therapies (family therapy and couple therapy).
The aim of this work is to describe and explain the occurrence of narrative changes
in systemic therapy (based on narrative approaches).
The research here described includes: a) the presentation of a narrative
assessment system (Assessment System of Narrative Change - ASNC) developed to
evaluate histories and narratives, namely, from sessions of family and couples
systemic therapy (Chapter I); b) ASNC application and development studies to
assess its validity and reliability (Chapter II); c) a general quantitative study about the
dimensions and predictors of narrative change in family and couples therapy
(Chapter III); d) a proposal of an comprehensive model about narrative change -
logic levels of narrative change - for systemic therapies; and f) a qualitative study
about three family therapy failures, focused on the analysis of the dimensions and
factors responsible for narrative (non)change.
Results indicate that the ASNC describes and characterizes the stories and
narratives produced by clients and therapists, in therapy, in two crucial aspects:
shape/structure and content of the stories. ASNC punctuates the micro and macro
changes that occur during the sessions and identifies turning points in the specific
stories talked in therapy, in each family or couple and in each session. ASNC was
applied in several contexts, with different participants and judges. Reliability scores
were, generally, considered to be good which validates ASNC applications and
supports the validity of the data collected about narratives.
Results of this investigation corroborate the fundamental assumption of
therapies that are narrative based: the experiences and meanings about life in general
and about problems that bring people to therapy change through the changes that
occur in their narratives (identity, or 1st order) (Carr, 1997). As narratives change,what we think and do changes as well. This assumption applies to the studied
families, couples and also to the investigator.
The results indicate that the process by which people change happens
through elaboration of conjoint stories (2nd order therapeutic narratives) whose
function is to generate a space for reflection, questioning, deconstruction and
development of alternative stories about problems. The construction of 2nd order
therapeutic narratives seems to be a relevant requirement in the event of change.
It was also concluded that in every therapy can occur perturbations in stories
and narratives, even if they do not generate the desired changes. For the change to
be effective it must not only occur a perturbation and questioning of “problem
stories”, but perturbations must also be amplified by the family/couple and social
relevant systems. The change should also occur in several dimensions of the stories:
content, meaning and structure. The introduction, in successful cases, as opposed to
failures, of subdominant versions of stories, singularities and narrative reflexivity
moments allowed the emergence of new stories and meanings and also allowed the
introduction of new themes in the sessions, away from symptoms. In the narrative
structure, in successful cases, the assumptions/elements that regulate stories, in the
higher levels of narrative organization - time and causality -, were unlocked. Inclusion
of future time and circular causality were observed in the narratives from successful
cases.
Important implications for clinical practice were underlined: a) the
requirement of a careful evaluation of the narrative functioning of systems about
problem stories, locking points and about family, social, cultural and political
frameworks and environments in which these stories were developed and exist; b)
therapy must introduce perturbation in the upper levels of the narrative (time, space
and causality) and include positive themes in therapy sessions, since early stages of
the therapeutic process.
This investigation allowed us to present the SAMN, to point out its strengths
and limitations in the study of change, punctuate new findings about change
comprehension and promotion in narrative systemic therapy and, finally, to outline
possibilities for future research, that enhance the here presented findings about the
change in the therapeutic process.
Description
Dissertação de Doutoramento realizada sob orientação da Professora Doutora Madalena
Alarcão, apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade
de Coimbra tendo em vista a obtenção do grau de Doutor em Psicologia, área de
especialização em Psicologia Clínica.
Keywords
terapia narrativa Terapia sistémica terapia familiar terapia do casal SAMN intervenção conceptualização processo terapêutico mudança Psicologia clinica